Na política brasileira, onde sobrenomes costumam pesar mais do que currículos, é comum ver filhos seguindo os passos de pais influentes. Mas quando o peso da responsabilidade política se choca com os valores da democracia e da ética pública, as escolhas feitas por esses herdeiros revelam muito mais do que apenas fidelidade familiar. É nesse ponto que se destaca a diferença entre dois deputados federais: Mersinho Lucena (PP-PB) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Ambos deixaram o Brasil recentemente em nome de seus pais. Ambos agiram motivados por laços familiares. Mas é aí que as semelhanças terminam — e as diferenças se tornam gritantes.
Mersinho Lucena viajou ao Oriente Médio em meio a uma missão arriscada e delicada. Em um momento de tensão entre Israel e o Irã, ele se deslocou em voo comercial, sozinho, sem alarde, para resgatar o pai, Cícero Lucena, prefeito de João Pessoa, e mais onze políticos brasileiros que se encontravam na região. Sem aparato luxuoso, sem comitiva, sem usar a missão como palanque, ele fez o que se espera de um parlamentar sério: colocou a vida humana, a diplomacia e o serviço público acima de interesses pessoais ou partidários.
Do outro lado, temos Eduardo Bolsonaro, o mais midiático dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Licenciado do mandato parlamentar, Eduardo embarcou para os Estados Unidos com outro objetivo: não salvar vidas, mas tentar salvar a imagem do pai. O ex-presidente enfrenta dezenas de acusações — que vão de fraude em vacinação à tentativa de golpe — e já está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral. Eduardo tem se empenhado em minar a credibilidade do Judiciário brasileiro, especialmente do STF, usando canais internacionais e alianças com grupos conservadores estrangeiros para projetar uma narrativa de perseguição política.
Enquanto Mersinho usou sua posição para proteger cidadãos brasileiros em uma zona de conflito, Eduardo usa a dele para atacar instituições democráticas em nome da sobrevivência política de seu clã. Um defende a vida; o outro, o poder. Um atua com discrição e responsabilidade; o outro, com barulho e estratégia de vitimização.
Essa diferença de postura revela o quanto o “ser filho” pode ser vivido de maneiras distintas no universo político. Mersinho honrou o cargo ao agir como representante do povo em um momento de crise internacional. Eduardo, por sua vez, tenta manter o pai como figura central de uma guerra política que tem mais a ver com manutenção de influência do que com interesse público.
No fim, a política brasileira ganha um raro contraste. Dois filhos, dois pais, dois atos públicos. Um mostra maturidade, institucionalidade e serviço. O outro, apego ao personalismo, ao negacionismo e à desinformação. Em tempos de crise democrática, essa diferença não é apenas simbólica. É essencial.