Quinta, 17 de Abril de 2025 14:51
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OPINIÃO EDITORIAL

Da Savana à urna: Outrora, O Brasil que elegeu um rinoceronte vereador da capital de São Paulo, agora aplaude um transformador

Não me surpreenderia se, em 2026, tivéssemos um pleito disputado entre um poste, um jacaré do Pantanal e um robô do ChatGPT.

21/03/2025 16h35 Atualizada há 3 semanas
Por: Redação
Foto: Reprodução/TV Cabo Branco
Foto: Reprodução/TV Cabo Branco

Por Jornalista Cacá Ramalho Lucena de Lacerda - Parece que o Brasil tem um talento único para transformar o ridículo em espetáculo e o desespero em comédia. Lá nos idos de 1950, quando o país ainda engatinhava em sua democracia de fachada, São Paulo decidiu que um rinoceronte chamado Cacareco seria o vereador perfeito. Não que o animal tivesse planos de governo — a não ser devorar capim e ignorar eleitores —, mas era, sem dúvida, mais honesto que alguns humanos da Câmara. O povo, em seu delírio coletivo, votou no bicho como quem joga um bilhete na loteria: “Por que não? Pior que está não fica”.

Avancemos sete décadas e eis que, em pleno 2025, um transformador de energia eólica chega a João Pessoa com escolta da Polícia Rodoviária Federal, como se fosse o Elon Musk desembarcando para inaugurar uma colônia em Marte. O equipamento — um amontoado de fios e ferro — foi ovacionado por uma plateia que, possivelmente, nunca havia visto um transformador na vida. Nas redes sociais, virou mito: ganhou música, memes e até promessa de candidatura presidencial. “Ele vai iluminar o Brasil!”, gritava um cidadão, confundindo metáfora com currículo político.

Não me surpreenderia se, em 2026, tivéssemos um pleito disputado entre um poste, um jacaré do Pantanal e um robô do ChatGPT. Afinal, se um rinoceronte já foi vereador e um transformador é tratado como Messias da infraestrutura, por que não sonhar alto? O povo, coitado, está tão desiludido com a política que qualquer coisa que não fale mentiras já parece digna de aplausos. Até um eletrodoméstico.

E não venham me dizer que isso é “sinal de esperança”. É sinal de que o brasileiro, em sua genialidade anárquica, resolveu substituir o voto útil pelo vulto humorístico. Já que os humanos nos decepcionam, votamos em bichos, máquinas e, quem sabe, em breve, em plantas ornamentais — a samambaia do vizinho tem mais ética que certos senadores.

O tal transformador, cá entre nós, até que tem seu charme. Ele não promete nada, não rouba e cumpre sua função sem criar CPI. Já é mais eficiente que 80% do Congresso. E se um dia resolver mesmo se candidatar, sugiro o slogan: “Quer energia nova? Vote na bobina que não enrola!”.

Enquanto isso, nas redes sociais, a falta de noção atinge níveis estratosféricos. Gente adulta, de cérebro aparentemente funcional, chora ao ver um equipamento de 250 toneladas a deslizar na estrada. “Olha, mãe, ele é tão lindo!”, exclama uma jovem, como se estivesse diante do Gusttavo Lima em dia de show. Não julgo: em tempos de inflação e notícias deprimentes, até um parafuso enferrujado vira entretenimento.

No fim das contas, o que temos é um país que ri para não chorar, que elege rinocerontes para não enlouquecer e que abraça transformadores como se fossem a salvação. E talvez seja mesmo. Afinal, se a política tradicional insiste em nos tratar como gado, nada mais justo que trocar os bois por… bem, por rinocerontes. Pelo menos eles têm couro duro o suficiente para aguentar as pancadas.

Para encerrar, deixo um conselho aos desiludidos: na próxima eleição, votem em uma geladeira. Além de manter suas cervejas geladas, ela nunca, jamais, vai esquentar para o seu lado.

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