Por Jornalista Cacá Ramalho Lucena de Lacerda - Parece que o Brasil tem um talento único para transformar o ridículo em espetáculo e o desespero em comédia. Lá nos idos de 1950, quando o país ainda engatinhava em sua democracia de fachada, São Paulo decidiu que um rinoceronte chamado Cacareco seria o vereador perfeito. Não que o animal tivesse planos de governo — a não ser devorar capim e ignorar eleitores —, mas era, sem dúvida, mais honesto que alguns humanos da Câmara. O povo, em seu delírio coletivo, votou no bicho como quem joga um bilhete na loteria: “Por que não? Pior que está não fica”.
Avancemos sete décadas e eis que, em pleno 2025, um transformador de energia eólica chega a João Pessoa com escolta da Polícia Rodoviária Federal, como se fosse o Elon Musk desembarcando para inaugurar uma colônia em Marte. O equipamento — um amontoado de fios e ferro — foi ovacionado por uma plateia que, possivelmente, nunca havia visto um transformador na vida. Nas redes sociais, virou mito: ganhou música, memes e até promessa de candidatura presidencial. “Ele vai iluminar o Brasil!”, gritava um cidadão, confundindo metáfora com currículo político.
Não me surpreenderia se, em 2026, tivéssemos um pleito disputado entre um poste, um jacaré do Pantanal e um robô do ChatGPT. Afinal, se um rinoceronte já foi vereador e um transformador é tratado como Messias da infraestrutura, por que não sonhar alto? O povo, coitado, está tão desiludido com a política que qualquer coisa que não fale mentiras já parece digna de aplausos. Até um eletrodoméstico.
E não venham me dizer que isso é “sinal de esperança”. É sinal de que o brasileiro, em sua genialidade anárquica, resolveu substituir o voto útil pelo vulto humorístico. Já que os humanos nos decepcionam, votamos em bichos, máquinas e, quem sabe, em breve, em plantas ornamentais — a samambaia do vizinho tem mais ética que certos senadores.
O tal transformador, cá entre nós, até que tem seu charme. Ele não promete nada, não rouba e cumpre sua função sem criar CPI. Já é mais eficiente que 80% do Congresso. E se um dia resolver mesmo se candidatar, sugiro o slogan: “Quer energia nova? Vote na bobina que não enrola!”.
Enquanto isso, nas redes sociais, a falta de noção atinge níveis estratosféricos. Gente adulta, de cérebro aparentemente funcional, chora ao ver um equipamento de 250 toneladas a deslizar na estrada. “Olha, mãe, ele é tão lindo!”, exclama uma jovem, como se estivesse diante do Gusttavo Lima em dia de show. Não julgo: em tempos de inflação e notícias deprimentes, até um parafuso enferrujado vira entretenimento.
No fim das contas, o que temos é um país que ri para não chorar, que elege rinocerontes para não enlouquecer e que abraça transformadores como se fossem a salvação. E talvez seja mesmo. Afinal, se a política tradicional insiste em nos tratar como gado, nada mais justo que trocar os bois por… bem, por rinocerontes. Pelo menos eles têm couro duro o suficiente para aguentar as pancadas.
Para encerrar, deixo um conselho aos desiludidos: na próxima eleição, votem em uma geladeira. Além de manter suas cervejas geladas, ela nunca, jamais, vai esquentar para o seu lado.