Em todo o universo da poêtica de Augusto dos Anjos, o poeta mais original da literatura brasileira, segundo Alfredo Bosi, outro crítico renomado, imortal da Academia Brasileira de Letras/ABL e Prof. Emérito da Universidade de São Paulo/USP, grassa nos seus versos, na sua "Crônica Paudarquense" e nas suas matérias publicadas nos mais variados periódicos locais, regionais e nacionais, de 1900 a 1914, seu mais percuciente ar cético frente à humanidade. Humanidade esta quem pra ele é uma mentira, em conformidade com o que Augusto dos Anjos pontifica nesses 14 versos desse seu soneto "Idealismo", uma forte influência da poética do poeta inglês Shakespeare, vinda lá do séc. XVI, a saber:
Idealismo
Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?!
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
-- Alavanca desviada do seu fulcro --
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
(Augusto dos Anjos, EU, 1912: 5-131)
Contudo, e ainda assim, muito mais considerável pra ele, Augusto dos Anjos, do que um reles simples robô X! Bem como ainda frente às tiragens quaisquer de exemplares dum possível ET seja Elon Musk, quem, repita-se aqui, ali, acolá e aos 4 cantos do planeta, dá nome ao próprio filho, outro robô, de X, uma coisa que nem é gente nem máquina, pois nem sequer tem cara tampouco dente. Nem é à toa que Augusto dos Anjos também pontifica em a sua poética aristotélica esses três pressupostos no 5° verso do seu "Poema Negro", a saber:
“A passagem dos séculos me assombra./Para onde irá correndo minha sombra/Nesse cavalo de eletricidade?!/Caminho, e a mim pergunto, na vertigem://— Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem?/E parece-me um sonho a realidade.”
Sobretudo ainda nem é à toa que Augusto dos Anjos tenha pontificado pressupostos na sua poética "EU", "Nonevar", "Versos Comerciais", "Versos Carnavalescos", "Crônica Paudarquense", além de ter assumido ou incorporado 11 pseudônimos ou possíveis heterônimos, a saber:
Chico das Couves, Zé do Pátio, O Poeta Raquítico, Tales de Mileto, Mercúrio, Petronius, Ovidius, Scopas, Anaxágoras, Caravadossi e W. (VASCONCELOS, 2002: 138.)
Inclusive esses possíveis pseudônimos ou heterônimos apareciam na revista "Nonevar"/1905-1910, a qual circulava em plena efervescência e auge na Festa das Neves, a consabida Padroeira da Capital do Estado da Parahyba. Não lhes bastando ainda que em pleno limiar desse 3° Milênio, 2025, coincidindo com a virada do século XXI, sequer foram pesquisados tampouco explorados em teses, dissertações, monografias, tcc's e demais projetos de pesquisa científica e de extensão, logo mesmo no seio da IES/Instituição de Ensino Superior ou demais IFES/Instituição Federal de Ensino Superior.
Sem contar, também ainda, que ele, o poeta Augusto dos Anjos, registrou no universo de sua poética que a passagem do século lhe assombrava! Dentre tantos inúmeros medos seus está aí um que espanta a todos: "Um Certo 'EU' de Augusto dos Anjos Desbengalado! Posto que furtaram dos jardins de sua própria Casa, Academia Paraibana de Letras/APL, à bengala tão elegante do também tão elegante poeta Augusto dos Anjos, um verdadeiro "Dandy", frequentador de todo aquele universo da "Bélle Époque", 1910-1914, que o próprio frequentara aos salões, posara e passeava em ruas como a Aurora da Confeitaria Colombo no Rio de Janeiro.
Diga-se de passagem que o poeta Augusto dos Anjos, desde a sua mais tenra idade, 10 anos, como um especimem notável de ser virtuoso já se desenvolvia de forma natural à exuberância e acentuada virtude soberba numa belíssima evolução esbelta ao seu favor por meio duma indizível fotossemiótica! Razão pela qual, também, nem é à toa sua origem nobre, filho de Senhor de Engenho, qualificado em nível de instrução intelectual à época, pois seu pai fôra juiz e desembargador nas terras e territórios de sua velha Parahyba, que agora, também como em outrora, lhe cassa tudo até uma simples bengala, deixando-o literalmente desbengalado! Absurdo!
Fontes & Fortuna Crítica ANJOS, Augusto dos [1884-1914]. EU. 1ª ed., custeada pelo poeta e seu irmão Odilon dos Anjos, Rio de Janeiro: [s.c.p.] 1912, pp.5-131. ARISTÓTELES [384-322 a.C.]. Poética. Tradução Eudoro de Souza, texto bilíngüe grego-português, São Paulo: Ars Poética, 1992, pp. 7-151. BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 37. ed. São Paulo: Cultrix, 1994. NÓBREGA, Humberto. Augusto dos Anjos e sua época. João Pessoa: Edição da Universidade da Paraíba, 1962, pp. 7-334. VASCONCELOS, Montgômery José de. "Recepção e transgressão, o público de Augusto dos Anjos", tese de doutorado, Comunicação e Semiótica/PUC-SP, São Paulo, 2002, p.138. _______________. A poética carnavalizada de Augusto dos Anjos. 1ª ed., São Paulo: Annablume, Selo Universidade 28, 1996, pp. 9-280. VIANA, Chico. O Evangelho da podridão - culpa e melancolia em Augusto dos Anjos. Editora da UFPB, João Pessoa, 1994. http://montgomery1953.
Montgômery Vasconcelos é mestre e doutor em Augusto dos Anjos.
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