A construção da ferrovia Transnordestina, que deveria impulsionar o desenvolvimento e o escoamento de produção da Região Nordeste, mais parece um interminável desfile de promessas e postergações. Com 1.753 quilômetros de extensão, ela foi pensada para conectar 81 municípios nos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco, além de impulsionar a logística do agronegócio, dos minérios e dos combustíveis para os portos de Pecém (CE) e Suape (PE), dois dos maiores do Nordeste. O papel vital dessa ferrovia, portanto, é claro: promover a integração regional, aumentar a competitividade econômica e facilitar o escoamento de produtos para o mercado global. Contudo, o que se vê até agora é um elefante branco que teima em sair do papel.
O projeto da Transnordestina, lançado por Lula em 2006, no último ano de seu primeiro mandato, foi inicialmente orçado em R$ 4,5 bilhões e prometia estar concluído até 2010. Passados 14 anos, a obra ainda está longe de ser finalizada e, como se não fosse suficiente, já ultrapassou o custo inicial em mais de três vezes, com um novo aporte anunciado recentemente de R$ 3,6 bilhões para concluir o que resta da obra. A Transnordestina se tornou um símbolo das dificuldades do Brasil em transformar planos em realidade, refletindo uma ineficiência crônica que afeta o país desde os seus projetos mais ambiciosos até as suas obras de infraestrutura mais simples.
Essa lentidão no andamento da obra afeta diretamente o desenvolvimento das regiões envolvidas. Embora o Ceará e Pernambuco ganhem com a finalização da ferrovia, o Piauí, que também se beneficiaria da Transnordestina, já sente as perdas de um projeto que parece mais distante a cada dia. E o que é ainda mais preocupante: a Paraíba, que não está incluída na malha ferroviária original, segue à margem desse processo, perdendo uma oportunidade crucial para o seu próprio desenvolvimento econômico. Isso pode criar um abismo ainda maior entre os estados da região, prejudicando a sua competitividade e o acesso aos grandes mercados.
Ao não incluir a Paraíba no projeto, o Brasil desperdiça uma chance de integrar toda a Região Nordeste e aproveitar a sinergia que a ferrovia poderia gerar entre os estados vizinhos. Isolada da rota, a Paraíba pode enfrentar sérios problemas para escoar sua produção agrícola, seus recursos minerais e até mesmo seus combustíveis. Isso pode retardar seu crescimento, além de empurrar o estado para um cenário de marginalização econômica no contexto nordestino.
Outro aspecto que não pode ser ignorado é a escassez de investimentos adequados em transporte ferroviário no Brasil. Enquanto o país possui uma vasta malha ferroviária de aproximadamente 31 mil quilômetros, segundo a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), ainda há um enorme potencial inexplorado nesse setor. Ferroviárias são cruciais para um país de dimensões continentais como o Brasil, não apenas para o transporte de mercadorias, mas também para viagens intermunicipais e interregionais. Vários países da Europa, como Alemanha e França, utilizam intensamente seus sistemas ferroviários para conectar suas grandes cidades e até zonas mais remotas, evidenciando o quanto esse modal é eficiente e indispensável para a economia.
Infelizmente, o Brasil ainda carece de uma política de transportes ferroviários que permita a integração plena de suas regiões, promovendo o uso dessa infraestrutura não só para grandes negócios, mas para a melhoria das condições de vida de seus cidadãos. A Transnordestina é um exemplo claro dessa lacuna. O governo anunciou recentemente mais recursos para concluir a obra, mas a sociedade brasileira já se acostumou a ver essas promessas como algo difícil de serem cumpridas.
Em um país onde a mobilidade e a conectividade são essenciais para o desenvolvimento, a Transnordestina deveria ser uma prioridade. No entanto, 18 anos após o seu lançamento, a obra ainda se arrasta, desafiando qualquer lógica de eficiência e transparência. Se o Brasil deseja realmente avançar em seu processo de modernização, precisa aprender a transformar planos e promessas em resultados concretos, para que não sejamos mais uma vez uma nação com grandes projetos paralisados em meio à ineficiência e ao desperdício de recursos. A Transnordestina, que poderia ser o catalisador de um novo ciclo de desenvolvimento no Nordeste, continua a ser uma obra que se arrasta a passos de tartaruga, deixando o futuro da região cada vez mais distante.