A recente decisão da Diocese de Patos em transferir o padre Fabrício Timóteo da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Taperoá, para a distante Paróquia de Santana dos Garrotes no Vale do Piancó, revela o quão autoritário se tornou o posicionamento da Igreja Católica em algumas comunidades paraibanas. Em particular, o caso do padre Fabrício, que deixa de ser pároco — uma figura central para a comunidade e líder de celebrações que movem multidões — para ocupar o papel de vigário (auxiliar) em outra localidade, provocou uma onda de indignação, levantando questões sobre os reais objetivos dessas movimentações.
Taperoá não é apenas uma cidade, mas um ícone cultural. Foi cenário da emblemática história de O Auto da Compadecida (embora o filme tenha sido gravado em Cabaceiras, na Roliúde Nordestina), de Ariano Suassuna, onde a fé, a moralidade e a crítica à autoridade se entrelaçam. Assim como a peça e o filme revelam as injustiças sociais e as arbitrariedades das instituições — às vezes pintadas como benevolentes, mas com decisões duras e desumanizadoras —, a transferência de um sacerdote amado pela comunidade pode ser vista como um reflexo dessas mesmas tensões. Na peça, figuras humildes recorrem a compadres e anjos para encontrar justiça e misericórdia; agora, os fiéis de Taperoá parecem igualmente buscar respostas sobre a decisão que retira deles um líder religioso.
O caso do Padre Fabrício é emblemático. Suas missas de cura e libertação, que atraíam não apenas a comunidade local, mas caravanas de várias partes do Nordeste, trouxeram à cidade um fervor renovado e uma fé profundamente arraigada. No entanto, a decisão do bispo Dom Eraldo de transferi-lo a uma função secundária, a quase 200 quilômetros, parece pouco considerar o impacto espiritual e social que essa perda representa para Taperoá. Em uma cidade onde a fé é símbolo de resistência e união, essa medida é sentida como um corte profundo, desagregador, e muitos questionam o real propósito de tamanha distância e desvalorização.
Ainda que a Igreja Católica costume justificar tais decisões com a ideia de obediência e rotação para ampliar o alcance pastoral, esse caso, em especial, parece se afastar do bem-estar da comunidade. A decisão passa a sensação de uma Igreja mais preocupada com hierarquias internas do que com o bem-estar espiritual das comunidades que a compõem. Assim, ao contrário de unir, a Igreja se distancia de suas bases e toma uma postura que, para muitos, ecoa um autoritarismo dissonante da compaixão pregada no Evangelho.
Talvez, em tempos de necessidade de renovação e proximidade com os fiéis, seja a hora de rever essas práticas. Afinal, o povo paraibano, como os personagens de Suassuna, sempre encontrará força para questionar, lamentar e se reerguer — mesmo que a Compadecida da vez seja a própria comunidade buscando sua voz e seu líder de volta.