O segundo turno das eleições em João Pessoa começa a revelar uma dinâmica em relação ao apoio político, ou à ausência dele, no entorno de Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro da saúde e candidato com 21,77% no primeiro turno. Com pouco tempo para tentar reduzir a larga vantagem de Cícero Lucena (PP), que obteve 49,16% dos votos, espera-se que Queiroga reuna uma base sólida de apoio, especialmente considerando o alinhamento ideológico e partidário com forças políticas influentes.
No entanto, a coletiva de imprensa convocada por Queiroga para anunciar o apoio do terceiro colocado, Ruy Carneiro (Podemos), e de sua vice Amanda CSI (MDB), revelou um cenário: um auditório vazio de lideranças políticas. Embora o apoio de Carneiro tenha sido um gesto significativo, o desinteresse de políticos de mandato e de destaque no cenário estadual e municipal sinaliza um isolamento precoce.
Esperava-se, por exemplo, que os partidos que apoiaram Ruy Carneiro, como Podemos, MDB, União Brasil e PSDB, mobilizassem suas lideranças em torno de Queiroga. Nomes de peso como o senador Efraim Morais e os deputados George Morais, Taciano Diniz e Gilbertinho (União Brasil), o senador Veneziano Vital do Rego e os deputados Anderson Monteiro e Dr. Romualdo (MDB), além de figuras do PL, como os deputados Cabo Gilberto, Wellington Roberto, Walber Virgolino e Caio Roberto, estavam ausentes.
Esse distanciamento também foi visto no plano municipal. Vereadores de mandato, como Durval Ferreira (PL), Carlão Pelo Bem (PL), Milanez Neto (MDB) e Coronel Sobreira (Novo), e parlamentares emergentes como Ícaro Chave (Podemos) e Fábio Lopes (PL), também não compareceram.
Essa falta de mobilização não é trivial. Políticos bem votados e com influência, como os suplentes Eder da Jampa, Sargento Rui, Zé Gadelha e outros, poderiam desempenhar um papel importante em transferir votos e fortalecer a campanha de Queiroga no segundo turno. A ausência deles aponta para uma questão maior: a hesitação de figuras estabelecidas em apostar no ex-ministro como uma real ameaça à liderança de Cícero Lucena.
O que explica essa apatia? Primeiro, Queiroga parece enfrentar uma resistência interna, seja por divergências políticas ou estratégias eleitorais, o que pode refletir uma falta de confiança na sua viabilidade de vencer. Segundo, há um desgaste político natural que Queiroga traz após sua passagem pelo Ministério da Saúde, marcada por momentos controversos. Mesmo com o apoio de Ruy Carneiro, ele não conseguiu criar uma onda de entusiasmo político.
Se Queiroga não conseguir rapidamente mobilizar essas figuras-chave, sua chance de vitória pode ser comprometida. As eleições em João Pessoa podem estar refletindo um fenômeno comum em disputas eleitorais: o "abandono estratégico", onde lideranças políticas preferem se resguardar, evitando comprometer sua imagem e capital político em uma candidatura que parece fadada ao insucesso. Ao que tudo indica, Marcelo Queiroga pode enfrentar uma dura caminhada até o segundo turno, lutando não apenas contra seu principal adversário, mas também contra a indiferença dos próprios aliados.