A história das pesquisas eleitorais no Brasil remonta às décadas de 1940 e 1950, quando os primeiros levantamentos de opinião começaram a ganhar relevância como ferramentas de análise política. Contudo, foi a partir dos anos 1980 que essas pesquisas se consolidaram como parte central do processo eleitoral, em especial após a redemocratização e o fortalecimento da imprensa livre. Institutos como o Ibope, Datafolha e Vox Populi tornaram-se referências no acompanhamento do humor do eleitorado e na projeção de cenários políticos, influenciando não apenas campanhas, mas também as estratégias de candidatos e partidos.
As pesquisas, quando realizadas com rigor científico, são uma valiosa bússola da opinião pública. Elas fornecem dados sobre a percepção do eleitorado em diferentes estágios da campanha, indicam tendências e possibilitam ajustes nas estratégias dos candidatos. A confiabilidade de uma pesquisa depende de uma série de fatores técnicos, como a amostragem adequada, a margem de erro calculada corretamente, a estratificação por gênero, idade, renda, e, acima de tudo, a neutralidade na formulação das perguntas. Um levantamento bem feito não apenas retrata o cenário eleitoral com precisão, mas também contribui para a transparência do processo democrático.
No entanto, o uso inadequado de pesquisas pode ser perigoso para a democracia. Quando realizadas sem critérios científicos sólidos, ou quando são deliberadamente manipuladas, essas pesquisas deixam de ser instrumentos de informação e se tornam ferramentas de distorção da realidade. Infelizmente, a história recente das eleições no Brasil e em outros países mostra que pesquisas enviesadas podem influenciar de forma negativa o comportamento dos eleitores, levando-os a tomar decisões baseadas em percepções incorretas.
Na Paraíba, um exemplo atual desse risco é a tentativa de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa para investigar institutos de pesquisas eleitorais que estariam manipulando dados e falsificando números. Isso ilustra o quanto o cenário pode se tornar grave quando interesses escusos permeiam a realização de levantamentos de opinião. A desconfiança sobre a manipulação de resultados não apenas gera insegurança no processo eleitoral, mas pode prejudicar a legitimidade dos resultados. Além disso, dezenas de pesquisas foram proibidas pela Justiça de serem divulgadas, reforçando a necessidade de maior rigor na fiscalização desses levantamentos.
Para se ter uma ideia, em João Pessoa, até o sábado (5), véspera das eleições, serão divulgadas quase dez pesquisas de intenção de voto, todas focadas nos mesmos candidatos. A abundância de números, muitas vezes divergentes, pode confundir o eleitor, especialmente quando a qualidade e a transparência dessas pesquisas são questionáveis. O efeito dessas publicações em massa no comportamento do eleitorado pode ser decisivo, criando uma percepção de favoritismo que nem sempre reflete a realidade.
Pesquisas mal conduzidas podem criar uma falsa sensação de vantagem ou de derrota, afetando diretamente o equilíbrio do pleito. Candidatos que aparecem em posições privilegiadas em levantamentos de baixa qualidade podem ser vistos como favoritos injustamente, gerando um "efeito manada", onde eleitores indecisos se alinham a uma candidatura por acreditar que ela já é vitoriosa. Do outro lado, candidatos com chances reais podem ser descartados pela opinião pública antes mesmo da votação, comprometendo a equidade da disputa.
Esse cenário é especialmente grave em tempos de polarização, onde a confiança nas instituições está fragilizada. Uma pesquisa que não segue critérios científicos adequados não apenas desinforma, mas também corrompe a própria essência do processo democrático, que é a livre escolha do eleitor, com base em informações claras e verdadeiras.
Portanto, é essencial que os órgãos reguladores, como a Justiça Eleitoral e o Ministério Público, fiscalizem rigorosamente a publicação de pesquisas eleitorais. A sociedade deve ser atenta e crítica em relação a esses números, entendendo que, se não forem conduzidos de maneira ética e com rigor metodológico, eles podem distorcer o processo eleitoral. Um pleito equilibrado depende de pesquisas honestas e criteriosas, que respeitem a complexidade e a diversidade do eleitorado brasileiro.
Afinal, as eleições são a expressão máxima da vontade popular, e esta jamais deve ser manipulada ou conduzida por informações equivocadas. É dever de todos garantir que as pesquisas sejam ferramentas de esclarecimento, e não de manipulação.