A prisão da primeira-dama de João Pessoa, Lauremília Lucena, neste sábado (28) pela Polícia Federal, é um evento que sacode o cenário político da capital paraibana. A operação, intitulada “Sementem”, é a terceira fase da investigação "Território Livre", que tem como alvo possíveis crimes de aliciamento violento de eleitores e organização criminosa nas Eleições de 2024. A detenção ocorre num contexto de crescente judicialização do processo eleitoral e coloca sob os holofotes as práticas políticas locais, expondo um lado pouco conhecido da disputa por poder.
Contudo, o que talvez mais surpreenda no episódio é o silêncio da base governista da Câmara Municipal. Dos 26 vereadores aliados ao prefeito Cícero Lucena, nenhum se pronunciou publicamente em defesa da primeira-dama ou demonstrou solidariedade ao gestor municipal. Um silêncio que ecoa de forma ainda mais estridente considerando a relevância política de Lauremília, não apenas como esposa do prefeito, mas como figura pública que, até então, era vista como uma força moderadora ao lado de seu marido.
Esse silêncio pode ser interpretado de várias maneiras. Primeiramente, ele sugere uma fissura na coesão da base governista. Em um momento crítico, onde seria esperado que os aliados do prefeito se manifestassem para acalmar os ânimos ou pelo menos dar uma demonstração de força política, o mutismo coletivo sinaliza que a lealdade entre Executivo e Legislativo está em cheque. Ao não oferecer qualquer apoio público, os vereadores podem estar calculando o custo de associar suas imagens a uma investigação tão delicada e com possíveis repercussões eleitorais.
Por outro lado, esse distanciamento pode refletir a cautela em se alinhar com uma figura que, neste momento, encontra-se no centro de uma tempestade judicial. Há um claro receio de contaminação política, de ter os nomes dos vereadores arrastados para um escândalo que já vem sendo explorado pela oposição. A falta de uma nota de solidariedade por parte da base não apenas fragiliza o prefeito, mas também sinaliza uma espécie de sobrevivência individualista, em que cada político busca resguardar sua própria carreira e imagem pública diante da crise.
Uma base política que se esconde no momento de maior necessidade envia sinais de fragilidade, algo que a oposição certamente explorará. Além disso, o silêncio reflete um pragmatismo político que, se por um lado é compreensível em tempos de crise, por outro, revela a falta de um comprometimento mais profundo com a lealdade política e a união diante de adversidades.
O que resta a ser visto é se essa postura de silêncio será mantida conforme as investigações avançam ou se, eventualmente, haverá uma mudança de tom quando os riscos políticos se dissiparem. Até lá, o silêncio da base governista continua a ecoar, deixando uma pergunta no ar: até onde vai a lealdade política em tempos de crise?
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A reportagem deixa aberto o espaço para que os mencionados possam se manifestar sobre os fatos, caso desejem.