Há uma crise silenciosa tomando conta do mercado editorial. Cada vez mais, os livros físicos estão perdendo espaço nas prateleiras, nas mãos e nas mentes das pessoas. A proliferação de e-books, a ascensão das redes sociais como fonte primária de informação e entretenimento e a precarização das livrarias independentes são sintomas de uma realidade que ameaça a cultura literária que conhecemos. O que causa espanto, no entanto, não é a transformação tecnológica inevitável, mas o silêncio inquietante de instituições que, em teoria, deveriam ser as primeiras a reagir e a defender a preservação do livro físico como artefato cultural.
A Academia Brasileira de Letras, guardiã da nossa língua e símbolo maior da preservação do conhecimento literário, parece distante deste debate. Seu papel como difusora e defensora do patrimônio literário brasileiro está sendo negligenciado. O que explica o seu silêncio frente ao declínio de livrarias, editoras e o desinteresse generalizado pelo livro físico? Em um país com índices tão baixos de leitura, seria esperado que a ABL assumisse uma postura ativa, alertando para o risco iminente de empobrecimento cultural.
O Ministério da Educação, por sua vez, também se cala. Onde estão as políticas públicas que fomentam o mercado editorial, facilitam o acesso ao livro, e incentivam a leitura desde cedo? O livro, em sua materialidade, ainda tem um valor simbólico que vai além do conteúdo digital. Segurá-lo, sentir suas páginas, marcá-lo com notas e carregá-lo como um companheiro de viagem é uma experiência que enriquece o leitor. No entanto, para a maior parte da população brasileira, publicar um livro físico é quase um sonho impossível. O custo exorbitante de produção, a falta de incentivo e o domínio do mercado por poucas grandes editoras tornam essa realidade praticamente inacessível para o autor comum.
As universidades federais, redutos do conhecimento e da pesquisa, também têm se mantido em silêncio. Elas, juntamente com as editoras universitárias, deveriam ser espaços naturais de resistência à perda do livro físico. Mas, com raras exceções, não há mobilização efetiva para preservar essa forma de difusão do conhecimento. Estudantes e pesquisadores veem-se, cada vez mais, compelidos a recorrer apenas a formatos digitais, sem que se ofereça uma reflexão crítica sobre o impacto dessa mudança no modo como interagimos com o saber.
O prazer de segurar um livro físico nas mãos, de sentir sua textura, de ter uma obra que represente o esforço de anos de trabalho e dedicação é uma experiência que transcende a mera leitura. É um símbolo de resistência cultural em um tempo de efemeridade e superficialidade. A falta de iniciativas que protejam e promovam o mercado editorial físico reflete, em última instância, um abandono da cultura e do conhecimento em sua forma mais tangível.
O silêncio da ABL, do Ministério da Educação e das universidades federais não pode continuar. Embora o livro físico não deva morrer, o declínio do interesse e da leitura nas novas gerações representa uma perda significativa para nossa história, nossa identidade e nossa capacidade de nos conectar de maneira profunda com o conhecimento. É preciso que esses atores saiam de sua letargia e que o debate sobre o futuro do livro seja trazido à tona, antes que seja tarde demais.