Em meio ao frenesi eleitoral que nos assola a cada quatro anos, é impossível não se maravilhar com a obra-prima da futilidade que são os planos de governo apresentados pelos candidatos. Estes planos são, sem dúvida, um espetáculo que merece uma ovulação de elogios pela capacidade de criar uma nova definição para o termo “inutilidade”. E, se procurarmos uma referência perfeita para ilustrar essa maravilha de vazio, não precisamos procurar muito além de Odorico Paraguaçu, o inigualável personagem criado por Dias Gomes para Odorico, o Bem-Amado.
Para os que ainda não tiveram o prazer de conhecer Odorico, ele é o exemplo clássico de um político que se destaca pela falta de substância e pela capacidade de fazer promessas grandiosas sem nunca entregar nada de concreto. Odorico é aquele que promete a construção de uma cidade ideal e a realização de feitos grandiosos, mas acaba sendo uma figura caricata e falha na prática. Se você acha que Odorico é uma invenção exagerada, é porque ainda não viu o que nossos candidatos têm a oferecer.
Vamos comparar, então, os planos de governo com o ilustre Odorico Paraguaçu. Ambos têm em comum a habilidade de criar uma ilusão de progresso, enquanto entregam apenas um espetáculo de promessas vazias. Os planos de governo são como um roteiro de cinema escrito por um roteirista que nunca viu a vida real: eles têm diálogos gloriosos e cenas impressionantes, mas quando o filme chega à tela, o público só encontra um amontoado de clichês e um enredo que não faz sentido.
Assim como Odorico, os planos de governo nos são apresentados com a fanfarra e o carisma de uma grande produção teatral. Candidatos discursam com uma empolgação que faria qualquer orador da Broadway parecer um amador. Eles prometem uma era de prosperidade e milagres administrativos, mas, assim como as promessas de Odorico de transformar sua cidade em um paraíso, a realidade acaba sendo uma série de fracassos e desilusões.
A implementação dessas propostas, se é que podemos chamar assim, é a fase onde o circo realmente acontece. É como assistir a um espetáculo de mágica onde o truque final é a completa ausência de resultados. A execução é tão eficaz quanto o famoso plano de Odorico de fazer um cemitério que nunca teria corpos: espetacular na teoria, um fiasco na prática.
O mais irônico de tudo isso é o desempenho dos candidatos. Eles, assim como Odorico, desempenham seu papel com tanta convicção e charme que, por um breve momento, conseguimos nos convencer de que suas promessas são reais. Mas, quando o pano cai e as luzes se apagam, somos confrontados com o nada, uma tela em branco que revela a verdade nua e crua: nada mudou, nada foi entregue.
Portanto, ao se deparar com o próximo plano de governo repleto de promessas grandiosas, lembre-se de Odorico Paraguaçu. Ele é a encarnação perfeita da política que promete mundos e fundos sem entregar nem mesmo uma migalha. E enquanto nos deliciamos com o espetáculo da futilidade, ao menos podemos nos consolar com a certeza de que estamos imersos em uma comédia de erros, onde o único resultado garantido é uma boa dose de ironia e sarcasmo.