A língua portuguesa, um dos maiores patrimônios culturais dos lusófonos, está em um estado de metamorfose constante. E se você pensou que o nosso idioma estava indo por um caminho seguro de pureza e tradição, pense novamente. O estrangeirismo, essa invasão silenciosa de palavras estrangeiras em nossa língua, está transformando o português em um verdadeiro caldeirão cultural — e não, não estamos falando de um prato típico brasileiro.
Desde o "software" até o "delivery", passando pelo "selfie" e o "marketing", nossa língua parece estar em uma festa à fantasia onde cada novo vocábulo é um disfarce de última hora. É como se o português, um dia clássico e sóbrio, tivesse decidido experimentar a moda internacional, trocando sua gravata borboleta por uma jaqueta de couro cheia de slogans gringos.
Ah, o charme do estrangeirismo! Ninguém resiste a um "trend" mais moderno, não é mesmo? A boa e velha palavra portuguesa foi deixada de lado em favor do "networking" e do "outdoor". Se um "home office" se tornou um fenômeno universal, quem somos nós para lutar contra a inevitabilidade do "brainstorming" e do "feedback"? Afinal, "crítica construtiva" é tão, bem, século passado.
Mas será que todo esse influxo de termos estrangeiros está realmente elevando nosso idioma ou apenas fazendo com que ele pareça mais um cardápio de fast-food? É curioso como, em nossa busca incessante por inovação e modernidade, esquecemos de apreciar a riqueza e a sofisticação das palavras que já temos. A palavra "emprego", por exemplo, é algo tão antiquado quando se pode usar "job" — que é bem mais descolado e, aparentemente, possui um toque de classe global.
Vamos ser sinceros: há algo de peculiar em ver um apresentador de telejornal utilizando termos como "stress" e "timeout" enquanto tenta explicar o "relacionamento" entre política e economia. É um misto de humor e frustração. E quando a sua avó tenta entender o que é um "hackathon", você percebe que a verdadeira revolução não é tecnológica, mas linguística.
No fundo, o estrangeirismo na língua portuguesa é um fenômeno que reflete nossa abertura ao mundo e à inovação?. Mas, talvez, devêssemos fazer uma pausa e refletir se estamos permitindo que essas palavras estrangeiras ofusquem o valor e a riqueza do nosso vocabulário nativo. Afinal, se o português está se tornando um desfile de termos gringos, corremos o risco de esquecer que, por trás do “feedback” e do “deadline”, há uma língua vibrante e cheia de nuances esperando para ser celebrada.
Portanto, enquanto nos divertimos com o “networking” e o “brainstorming”, talvez seja hora de reavaliar e valorizar a beleza das palavras que já possuímos. Quem sabe, ao resgatar um pouco da nossa própria herança linguística, possamos criar um equilíbrio que não apenas mantenha nosso português fresco e atual, mas também preserva o charme e a identidade que fazem dele algo verdadeiramente especial. Em última análise, não é sobre rejeitar o estrangeirismo, mas sobre encontrar o equilíbrio entre o novo e o clássico — porque, convenhamos, um pouco de sobriedade linguística nunca fez mal a ninguém.